quarta-feira, maio 12, 2010

Serpa para sempre

Rua dos Canos nº. 24, bem vistas as coisas o nº. 24 já não existe a porta encontrei-a agora fechada.
Uma parede tapa a porta de acesso à casa onde moraram desde meados do séc XIX, primeiro os meus bisavós paternos e que mais tarde seria também a casa da minha avó e filhos quando o meu avô partiu para Africa. Meu pai viveu e cresceu naquela casa até aos 15/16 anos.
Mais tarde por volta de 1935 ficando a casa vaga para alí se mudariam os meus avós maternos, com o seu rancho de 5 filhos o mais novo dos quais com 4 anos.
Na sala cuja janela se vê no primeiro andar e que na época pertencia a uma sociedade recreativa teve lugar a boda de casamento dos meus pais no dia 2 de Dezembro de 1944, estava-se então em plena guerra mundial e vivia-se em Portugal o chamado período de racionamento.
O portão de madeira pintado de verde que dava acesso ao quintal parece ser o mesmo, embora se apresente agora castanho. Totalmente caiadas as umbreiras que eram de pedra assim como o poial, agora remendos que desvirtuam a fachada original, que pena não o terem deixado ficar. Aquele poial, o original dava não só uma graça romantica com o seu desnível do lado esquerdo, como era a testemunha singular das muitas entradas e saídas, quando por volta dos séculos XVII/XVIII, servia de passagem a quem se dirigia ao Hospital da Misericórdia que alí existia. Nesta casa, com o seu grande quintal onde sobressaíam dois enormes pessegueiros e uma roseira de bonitos cachos de flores brancas miudinhas que exalavam na primavera um perfume maravilhoso, viveram-se dramas e alegrias histórias de três gerações da minha familia de que sou a fiel depositária. Fecho os olhos e ainda consigo visualizar todos os seus recantos.
Até mesmo aquele portão me faz recordar o meu primeiro beijo (roubado pelo meu atrevido namorado).

2 comentários:

Mar disse...

Lindo...:-)

Susete Evaristo disse...

Pois é amiga nem te pasa pela cabeça as histórias que aquelas paredes se falassem poderiam contar.