sexta-feira, outubro 22, 2010

domingo, junho 20, 2010

Homenagem a Saramago - Extraído

do livro: Viagem a Portugal
…………………………………………............................................... O viajante dormirá neste sitio de S. Gens, perto de Serpa. Há, aqui para trás, uma Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe. O que tem pra ver, vê-se por fora. Não é como a paisagem que diante dos olhos do viajante se alonga. Essa quer que a vejam por dentro. É uma distância de árvores e colinas quase rasas, simples cômoros que se confundem com a planície. Já se pôs o Sol, mas a planície não se apaga. Cobre o campo uma cinza dourada, depois empalidece o ouro, a noite vem devagarinho do outro lado, acendendo as estrelas. Chegará mais tarde a Lua, e os mochos chamarão uns pelos outros. O Viajante, diante do que vê, sente vontade de chorar. Talvez tenha pena de si mesmo, desgosto de não ser capaz de dizer em palavras o que esta paisagem é. E diz apenas assim: esta é a noite em que o mundo pode começar.
………………………………………………….....................……..........................… Quando o viajante acordou e abriu a janela do quarto, o mundo estava criado. Era cedo, ainda vinha longe o Sol. Nenhum lugar pode ser mais serenamente belo, nenhum o será com meios mais comuns, terra larga, árvores, silêncio. O viajante tendo assim estas coisas estimado com o seu saber de muita experiência feito, pôs-se à espera de que o Sol nascesse. Assistiu a tudo, à transformação da luz, à invenção da primeira sombra e do canto da primeira ave, e foi o primeiro a ouvir uma voz de mulher, vinda do invisível, dizendo esta frase simples: «Vai estar outro dia de calor.» Proféticas palavras, como o viajante viria a saber à sua custa.
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(esta é a paisagem descrita por Saramago)

quinta-feira, maio 13, 2010

Serpa para sempre

Há quem afirme que as pedras falam. Eu quase diria o mesmo ao observar este arco das muralhas de Serpa cujas marcas nos transmitem as imensas histórias de que foram testemunhas. O Arco das Portas de Moura, embora despojado das madeiras que em tempos serviram para impedir o acesso dos inimigos ou para franquear a entrada aos amigos, pois há muito se lhes perderam o rasto, ainda são visives os sitios onde se colocavam as trancas de segurança das portas.

quarta-feira, maio 12, 2010

Serpa para sempre

Rua dos Canos nº. 24, bem vistas as coisas o nº. 24 já não existe a porta encontrei-a agora fechada.
Uma parede tapa a porta de acesso à casa onde moraram desde meados do séc XIX, primeiro os meus bisavós paternos e que mais tarde seria também a casa da minha avó e filhos quando o meu avô partiu para Africa. Meu pai viveu e cresceu naquela casa até aos 15/16 anos.
Mais tarde por volta de 1935 ficando a casa vaga para alí se mudariam os meus avós maternos, com o seu rancho de 5 filhos o mais novo dos quais com 4 anos.
Na sala cuja janela se vê no primeiro andar e que na época pertencia a uma sociedade recreativa teve lugar a boda de casamento dos meus pais no dia 2 de Dezembro de 1944, estava-se então em plena guerra mundial e vivia-se em Portugal o chamado período de racionamento.
O portão de madeira pintado de verde que dava acesso ao quintal parece ser o mesmo, embora se apresente agora castanho. Totalmente caiadas as umbreiras que eram de pedra assim como o poial, agora remendos que desvirtuam a fachada original, que pena não o terem deixado ficar. Aquele poial, o original dava não só uma graça romantica com o seu desnível do lado esquerdo, como era a testemunha singular das muitas entradas e saídas, quando por volta dos séculos XVII/XVIII, servia de passagem a quem se dirigia ao Hospital da Misericórdia que alí existia. Nesta casa, com o seu grande quintal onde sobressaíam dois enormes pessegueiros e uma roseira de bonitos cachos de flores brancas miudinhas que exalavam na primavera um perfume maravilhoso, viveram-se dramas e alegrias histórias de três gerações da minha familia de que sou a fiel depositária. Fecho os olhos e ainda consigo visualizar todos os seus recantos.
Até mesmo aquele portão me faz recordar o meu primeiro beijo (roubado pelo meu atrevido namorado).

segunda-feira, maio 10, 2010

Serpa para sempre

Mas paralela ao Quebra Costa (publicado abaixo) também existe em Serpa a Rua Ajudante da Terra, desconheço quem a baptizou com este nome porém já assim se chamava em 1838.
Situa-se entre a Rua de Santo António e a Rua do Prego.

Serpa para sempre

Serpa embora seja uma cidade quase plana, eu disse quase porque mesmo as ladeiras não são ingremes, tem esta Travessa a que acharam por bem denominar por "Travessa do Quebra Costa" a inclinação não é muita mas as pedras devem ser escorregadias principalmente se molhadas da chuva devido ao polimento da sua calçada. O nome desta artéria já é conhecido desde 1838.

Serpa para sempre

Rua de Santo António nº. 27.
Há pouco afirmei que conheço as ruas de Serpa como as palmas das minhas mãos é verdade, mas há pormenores que por vezes nos escapam, outras nos saltam à vista como se nunca os tivessemos olhado.
Reparem no pormenor da antiga cantaria do portal desta casa e na grossura que sucessivas camadas de cal tem vindo, ao longo dos anos, engrossar as suas paredes. Lindo não é?

Serpa para sempre

Largo das Portas de Moura. Na casa com o nº 12, vivi com os meus pais dos 5 aos 8 anos de idade. Éramos na vizinhança várias crianças mais ou menos das mesmas idades e engraçado, apesar das diferenças sociais, que naquele tempo marcavam ricos e pobres na rua eramos iguais. Lembro-me da Leopoldina (a Pódinita) e da Mariazinha filhas do patrão do meu pai, da Celeste, filha dos senhores que eram forneiros, no forno de pão que havia mesmo junto às muralhas, da Zétinha que vivia na casa mesmo em frente da minha e era a mais velha de todos, eu a minha irmã Lourdes e os meus primos. A Rosinda, filha da minha tia Bia irmã de meu pai, o Manuel, ou como era mais conhecido o Manelito, Edmundo e Zulmira filhos de uns primos irmaos do meu pai mas a quem chamavamos tios, tio Eliseu e a tia Ana Teresa. A Zulmirinha era mais pequenida de todos.
Do Grupo fazia ainda parte uma miuda que morava na Rua de Santo António de quem já não recordo o nome, e uma filha do Sr. Taquelim.
No verão podiamos bricar na rua pois não havia movimento automóvel .
"Minha mãe dá licença" o jogo do "Lencinho queimado" ou o "Jogo das estátuas" eram as nossas brincadeiras preferidas.
Também nesta casa acontecerem vários episódios engraçados que mais tarde contarei

Serpa para sempre

Há muito tempo que não publico nada neste meu blogue, tenho visitado Serpa mas tipo visita de médico o que me deixa muito pouco tempo para fotografar lugares, porém na semana passada foi-me possivel ficar de um dia para o outro.
A principal razão era visitar a campa de meus pais, e mais familiares onde não ia há já alguns anos.
Cumprida a missão que alí me levou, deambulei pelas ruas que conheço como as palmas das minhas mãos, porém há sempre um recanto diferente um arranjo de rua, um espaço ajardinado, ou um pormenor que me tem escapado. Então deixo aqui as fotos que desta vez fui tirando ao calcorrear aquela que é a minha amada Serpa.
Creche Nossa Senhora da Conceição doado por Dª Ana Izabel de Araújo Parreira, à Diocese de Beja. Situa-se no Largo das Portas de Moura a dois passos ou melhor duas portas depois da casa onde morei dos 5 aos 8 anos. Aliás tenho dois episódios na minha vida relacionados com a Creche. O primeiro foi quando tinha os meus 6 anos e quiz porque quiz frequentar a creche onde havia quem ensinasse a bordar. Comprada a cadeira a tesoura agulhas e linhas de bordar e levando também um pano de tabuleiro desenhado pelo meu pai, apresentei-me na Creche mas... azar dos azares, logo no primeiro dia piquei o dedo indicador mesmo junto à unha tendo como resultado uma infecção que só passou com papas de leite quente colocadas em compressa. Resultado só lá fui um dia não tive mais interesse em picar outros dedos.
O segundo episódio aconteceu por alturas de Maio, no dia da 1ª comunhão e do crisma, sim porque também vivi essas etapas na minha vida (embora anos mais tarde, hoje, me considere agnóstica). Como ia contando era Domingo, de manhã na Missa resada na Igreja de Salvador tinha sido celebrada a comunhão e o crisma, de muitas crianças, pelo Bispo creio que de Beja a que se seguiu na Creche, um almoço para todas as crianças que tinham sido crismadas, o qual se prolongou pela tarde. Ora nesse mesmo dia realizava-se um jogo de futebool entre o Serpa e o Almada (creio que já me referi a este episódio um texto mais abaixo).
O meu pai foi buscar-me à festa e toda a familia se dirigiu para o Estádio para assistir ao encontro.
O Serpa (Clube de Fotebool) perdeu 7-0 e Serpa população, perdeu também porque, a carga de pancadaria perpretada pela Guarda Republicana a cavalo à saída do estádio, não estava prevista pelos adeptos que nada puderam fazer senão fugir.
Foi brutal não respeitando nem mulheres nem crianças, lembro-me que nem o Presidente da Câmara escapou.