domingo, outubro 01, 2006

O Cante

Depois de ouvido o quase murmurejar do Guadiana, junto às Pontes, e o seu canto enraivecido, qual Otelo ao sentir-se traído por Desdemona, no Pulo do Lobo, voltamos a Serpa. E ao cair da noite ouviremos as vozes, ao mesmo tempo graves e melodiosas, sofridas, rijas e fortes do Cante do Alentejo. No tempo da minha juventude, não raro se ouvia em Serpa, pela calada da noite, ou alta madrugada levantarem-se vozes cantando, mas ninguém se incomodava, antes pelo contrário, algumas janelas entreabriam-se para melhor se escutarem essas vozes.
Confesso que só mais tarde, longe, muito longe de Serpa reconheci a beleza do Cante Alentejano e aprendi o tom, as melodias, o quebrar das palavras, o arrastar das sílabas. Posso dizer que foi a saudade quem me ensinou. Corais de Serpa (fotos 1, 2 e 3)
Quem me dera ser de Serpa
Ou em Serpa ter alguém
Só para ouvir dizer
És de Serpa Cantas bem
Como ainda não sei colocar música no blogue deixo aqui algumas modas do Cante Alentejano, antigas, das de sempre.
E também descantes.
Lá vai o balão ao ar (descante)
Lá vai o balão ao ar!
Se ele vai, deixai-o ir !
Ajuntem-se as moças todas
P’ra verem o balão subir.
P’ra verem o balão subir,
P’ra verem o balão baixar
Ausentou-se o meu amor,
Já não há quem saiba amar!
Eu sou devedor à Terra
Eu sou devedor à terra
A Terra me ‘stá devendo
Eu sou devedor à Terra
A Terra me ‘stá
A Terra paga-m’em vida
Eu pago à terra em morrendo
Alentejo, Alentejo
Terra sagrada do pão
Eu hei-de ir ao Alentejo
Mesmo que seja no Verão
Ver o doirado do trigo
Na imensa solidão
Alentejo Alentejo
Terra Sagrada do Pão
Ao romper da bela aurora (moda)
Ao romper da bela aurora
Sai o pastor da choupana
Meu lírio roxo
Sai o pastor da choupana
Vem gritando em altas vozes
Muito padece quem ama
Meu lírio roxo
Muito padece quem ama
Muito padece quem ama
Mais padece quem adora
Meu lírio roxo
Muito pedece quem ama.
Não são de Serpa, são Alentejanos cantam bem e emocionam quem os ouve. Quero fazer aqui a minha homenagem aos mineiros de Aljustrel e ao Hino do Mineiro. Obrigada
O Hino do Mineiro
Nas minas de S.João
La la la la la la la la
Morrerom quatro mineiros, vê lá
Vê lá companheiro, vê lá
Vê lá como venho eu...
La la la la la la la la
Eu trago a camisa rota
La la la la la la la
E o sangue dum camarada, vê lá
Vê lá companheiro, vê lá
Vê lá como venho eu...
La la la la la la la la
La la la la la la la la
Oh Senhora Santa Bárbara
La la la la la la la la
Padroeira dos mineiros, vê lá
Vê lá companheiro
Vê lá como venho eu...
La la la la la la la la
La la la la la la la la
Eu trago a cabeça aberta
La la la la la la la la Abateu uma barreira, vê lá
Vê lá companheiro, vê lá
Vê lá como venho eu...
La la la la la la la la
La la la la la la la la
Eu trago a camisa rota
La la la la la la la la
E o sangue dum camarada, vê lá
Vê lá companheiro, vê lá
Vê lá como venho eu...
La la la la la la la la
La la la la la la la la
Oh Senhora Santa Bárbara
La la la la la la la la
Padroeira dos mineiros, vê lá
Vê lá companheiro
Vê lá como venho eu...
La la la la la la la la
La la la la la la la la