



José Francisco Correia da Serra (Abade Correia da Serra)
Em 1966 foi inaugurada a Biblioteca Gulbenkian, numa pequena sala nas trazeiras do edificio da Câmara Municipal, mas já antes a Fundação com o mesmo nome fazia circular por várias terras, incluindo Serpa uma carrinha carregada de livros a que se dava o nome de Biblioteca intenerante, onde aqueles de nós que tinham o vício da leitura, saciavam a sua sede, uma vez que estava completamente fora de questão a compra de livros, tidos já nesse tempo, como produtos de luxo a que só alguns podiam aceder. Orgulho-me de pertencer ao conjunto dos primeiros leitores que de quinze em quinze dias, traziam para casa 3 a 5 livros. Conservo ainda o cartão de leitor. É com bastante alegria que constato a construção de um edificio condigno para a instalação do acervo da Biblioteca Municipal.
Abaixo alguns dos livros editados pela Câmara Municipal de Serpa., e o meu cartão de leitor.
Depois de ouvido o quase murmurejar do Guadiana, junto às Pontes, e o seu canto enraivecido, qual Otelo ao sentir-se traído por Desdemona, no Pulo do Lobo, voltamos a Serpa. E ao cair da noite ouviremos as vozes, ao mesmo tempo graves e melodiosas, sofridas, rijas e fortes do Cante do Alentejo. No tempo da minha juventude, não raro se ouvia em Serpa, pela calada da noite, ou alta madrugada levantarem-se vozes cantando, mas ninguém se incomodava, antes pelo contrário, algumas janelas entreabriam-se para melhor se escutarem essas vozes.Confesso que só mais tarde, longe, muito longe de Serpa reconheci a beleza do Cante Alentejano e aprendi o tom, as melodias, o quebrar das palavras, o arrastar das sílabas. Posso dizer que foi a saudade quem me ensinou. Corais de Serpa (fotos 1, 2 e 3)Quem me dera ser de SerpaOu em Serpa ter alguémSó para ouvir dizerÉs de Serpa Cantas bemComo ainda não sei colocar música no blogue deixo aqui algumas modas do Cante Alentejano, antigas, das de sempre.E também descantes.Lá vai o balão ao ar (descante)Lá vai o balão ao ar!Se ele vai, deixai-o ir !Ajuntem-se as moças todasP’ra verem o balão subir.P’ra verem o balão subir,P’ra verem o balão baixarAusentou-se o meu amor,Já não há quem saiba amar!Eu sou devedor à TerraEu sou devedor à terraA Terra me ‘stá devendoEu sou devedor à TerraA Terra me ‘stáA Terra paga-m’em vidaEu pago à terra em morrendoAlentejo, AlentejoTerra sagrada do pãoEu hei-de ir ao AlentejoMesmo que seja no VerãoVer o doirado do trigoNa imensa solidãoAlentejo AlentejoTerra Sagrada do PãoAo romper da bela aurora (moda)Ao romper da bela auroraSai o pastor da choupanaMeu lírio roxoSai o pastor da choupanaVem gritando em altas vozesMuito padece quem amaMeu lírio roxoMuito padece quem amaMuito padece quem amaMais padece quem adoraMeu lírio roxoMuito pedece quem ama.Não são de Serpa, são Alentejanos cantam bem e emocionam quem os ouve. Quero fazer aqui a minha homenagem aos mineiros de Aljustrel e ao Hino do Mineiro. ObrigadaO Hino do MineiroNas minas de S.JoãoLa la la la la la la laMorrerom quatro mineiros, vê láVê lá companheiro, vê láVê lá como venho eu...La la la la la la la laEu trago a camisa rotaLa la la la la la laE o sangue dum camarada, vê láVê lá companheiro, vê láVê lá como venho eu...La la la la la la la laLa la la la la la la laOh Senhora Santa BárbaraLa la la la la la la laPadroeira dos mineiros, vê láVê lá companheiroVê lá como venho eu...La la la la la la la laLa la la la la la la laEu trago a cabeça abertaLa la la la la la la la Abateu uma barreira, vê láVê lá companheiro, vê láVê lá como venho eu...La la la la la la la laLa la la la la la la laEu trago a camisa rotaLa la la la la la la laE o sangue dum camarada, vê láVê lá companheiro, vê láVê lá como venho eu...La la la la la la la laLa la la la la la la laOh Senhora Santa BárbaraLa la la la la la la laPadroeira dos mineiros, vê láVê lá companheiroVê lá como venho eu...La la la la la la la laLa la la la la la la la
E sem dar por isso já estamos no Pulo do Lobo. A paisagem é agreste, brutal mas maravilhosamente bela, como todas as paisagens ainda virgens. E a água do Rio Guadiana que sentindo-se apertado entre as margens comprimidas, zanga-se, barafusta e sai com um grande estrondo que nos assusta, mas também nos seduz, extasia e nos esmaga com a sua beleza selvagem. A última vez que estive no Pulo do Lobo foi, à sombra da árvore que na primeira foto aparece caída, que fizemos o almoço. Foi com mágoa que a vi assim, caída no chão, arrancada pela raiz.
Das grutas escavadas nas rochas, uma há, de difícil acesso, a que só se atreviam noutros tempos aqueles que faziam do contrabando a sua profissão. Dizem, pois nunca me atreveria a descer até lá, que as águas do rio escavaram e moldaram toscos bancos de pedra dizem até que uma das rochas que se assemelha a uma mesa, é a chamada “Sala dos Contrabandistas”, quanto a mim é a mais uma vez a natureza a ajudar os humanos.