quarta-feira, julho 18, 2007

O Desporto - 2

1956/57 O Futebol Clube de Serpa Campeão Nacional da 3ª. Divisão.
Volto ao Futebol para contar aquilo de que muita gente ainda se deve lembrar, quando na época de 1957/58 o Serpa defrontou o Campeão Nacional da época 55/56 o Almada. Lembro-me de ter ido assistir ao jogo de futebol, levada pelo meu pai, no mesmo dia em que tinha feito a comunhão, devia portanto ser o mês de Maio. Sei que o Serpa perdeu 7-0, mas o pior foi o que nos esperava no fim do jogo. Quando o jogo terminou abertas que foram as portas, nas já actuais instalações desportivas, qual não foi o espanto dos adeptos quando são recebidos com uma carga da GNR a cavalo, que não respeitou ninguém homens, mulheres e crianças. Apenas escaparam às vergastadas da GNR, aqueles que num pé ligeiro se conseguiram abrigar no Jardim Municipal, o que foi o meu caso e da minha familia. Nunca tal se tinha visto em dia de festa, após um acto desportivo. Ao Hospital chegaram cabeças e braços partidos, crianças choravam pelos pais e nem o Presidente da Câmara escapou. Espectáculo degradante. Foi o último jogo de futebol a que o meu pai, Campeão Distrital 47/48, assistiu ao vivo, no campo do Serpa.

Desporto - O Foot-boll


Comecemos pelo chamado desporto rei “O Futebol” . Segundo o que meu pai contava existiam em Serpa nos seus tempos de juventude, várias Agremiações Desportivas, entre elas “Os Trauliteiros” e “Os Gatos Amarelos”, rivais nas lides desportivas. Aos Gatos Amarelos pertenceu o meu pai nos idos dos anos 30 do Séc. passado.
Mais tarde foi a vez do "Club de Fôot-boll Serpense os Encarnados” , “O Luso” e “Os Azuis”, estes são aqueles de que me lembro ouvir o meu pai falar, embora saiba da existência ao longo dos tempos de outros clubes ou agremiações. Tenho uma vaga ideia de que os "Encarnados" teriam dado lugar aos "Azuis" mas já não posso precisar com segurança. Lembro no entanto que, por ser sócio d’Os Azuis", eterno rival do "Luso", o meu pai, nos anos 60/70, ainda não punha os pés na sociedade “Luso União Serpense” nem mesmo quando, com filhas já crescidas que frequentavam o salão de baile ali existente, as ia buscar (quais gatas borralheiras ao bater da meia noite). Mas voltando ao Futebol, integrou o meu pai, como sócio fundador e jogador federado o grupo que em 1945 fundou o então Futebol Clube de Serpa, de que foi sócio que eu me lembre até aos anos 60. Dos primeiros tempos, dos tempos dos “Gatos Amarelos” contava com grande entusiasmo para além das vitórias (e algumas derrotas que as houve e muitas), a festa que era quando em dia de jogo a população ia em peso para as imediações do campo de futebol, sito num terreno baldio, não muito longe do local onde hoje se situa o Estádio, esperar os jogadores. O campo era careca, mas nem por isso o entusiasmo era menor. Os jogadores vinham equipados desde a Sede do Clube, correndo pelas ruas da vila, aplaudidos ou assobiados conforme as simpatias clubistas. O equipamento, bom, o equipamento se assim se pode chamar ao uso de cuecas e camisola interior, era branco. Mas, há sempre um mas, algum tempo depois tanto os jogadores como os adeptos foram confrontados com uma surpresa ... e que surpresa. Foi num domingo, quase à hora de mais um encontro, a outra equipa era de fora e os seus adeptos estavam preparados para desmotivar os de Serpa, ridicularizando-os por causa do equipamento. Foi então que no meio de grande euforia alguém (já não recordo o nome) entrou na Sede dos Gatos Amarelos, com grandes caixas onde eram transportados novinhos em folha os novos equipamentos, incluído “chuteiras”. Calções brancos, como os do Benfica, camisola de riscas verticais como as do Porto mas, verde e branco como o Sporting Clube de Portugal. Foi o delírio total. O entusiasmo do meu pai ao contar-me este episódio era tal que eu, quase podia visualizar, não só a alegria do meu pai, que era evidente, como a alegria e admiração de todos aqueles que mais uma vez ladeavam as ruas por onde os jogadores passavam. Nesse dia ganharam no campo, na admiração dos adeptos e viram os adversários meter a língua no saco. O meu pai foi jogador de futebol até aos seus 35 ou 36 anos.
Fotos: (nº. 1 "Os Encarnados" o meu pai é o jogador que se encontra mais à direita na foto, de notar as riscas horizontais deste equipamento); (nº. 2 cartão de sócio do Futebol Clube de Serpa nº. 193 de 1956); (nº. 3 Não sei que equipa é, reconheço dois dos jogadores o segundo a contar da esquerda na primeira fila salvo erro o Sr. Fausto Cação e o penultimo da mesma fila, meu tio José Bule). Em baixo o cartão da Federação Portuguesa de Futebol, Licença do jogador nº. 20516 época 1948/49 de primeira categoria, José dos Remédios Evaristo, meu pai.

terça-feira, julho 17, 2007

Vida Cultural - As Bibliotecas

Possui Serpa duas bibliotecas “A Biblioteca Municipal ou Biblioteca Correia da Serra” e a “Biblioteca Caloust Glubenkian” . A Biblioteca Correia da Serra foi criada no ano de 1904, mais precisamente a 6 de junho de 1904, por iniciativa de alguns Serpenses que assim quizeram prestar a sua homenagem a um dos maiores vultos do Portugal do sec. XVIII, um ilustrissimo filho de Serpa. Em 9 de Janeiro de 1931, encontrando-se a mesma em estado caótico foi convidado para a arrumar o poeta e jornalista João Gonçalves Bentes. Em 1950 porém, feito o inventário com base em livro de registo antigo verificou-se a falta de grande quantidade de livros pelo que foram publicados editais convidando os utentes à sua devolução. Nos anos 70 foi tarefa de João Cabral, a reorganização da Biblioteca no intuito de a colocar ao serviço da população, como era intenção dos seus fundadores o que veio a acontecer. A Biblioteca funcionou durante algum tempo no edificio da Câmara, passando depois para a Rua Dr. Luís de Almeida e Albuquerque, ocupando um edificio que foi em tempos a morada oficial do Juiz e onde também foi instalada a Biblioteca Calouste Gulbenkian. O Património bibliográfico ali existente é de cerca de 2000 volumes.

José Francisco Correia da Serra (Abade Correia da Serra)

Em 1966 foi inaugurada a Biblioteca Gulbenkian, numa pequena sala nas trazeiras do edificio da Câmara Municipal, mas já antes a Fundação com o mesmo nome fazia circular por várias terras, incluindo Serpa uma carrinha carregada de livros a que se dava o nome de Biblioteca intenerante, onde aqueles de nós que tinham o vício da leitura, saciavam a sua sede, uma vez que estava completamente fora de questão a compra de livros, tidos já nesse tempo, como produtos de luxo a que só alguns podiam aceder. Orgulho-me de pertencer ao conjunto dos primeiros leitores que de quinze em quinze dias, traziam para casa 3 a 5 livros. Conservo ainda o cartão de leitor. É com bastante alegria que constato a construção de um edificio condigno para a instalação do acervo da Biblioteca Municipal. Abaixo alguns dos livros editados pela Câmara Municipal de Serpa., e o meu cartão de leitor.