
(esta é a paisagem descrita por Saramago)
Há quem afirme que as pedras falam. Eu quase diria o mesmo ao observar este arco das muralhas de Serpa cujas marcas nos transmitem as imensas histórias de que foram testemunhas.
O Arco das Portas de Moura, embora despojado das madeiras que em tempos serviram para impedir o acesso dos inimigos ou para franquear a entrada aos amigos, pois há muito se lhes perderam o rasto, ainda são visives os sitios onde se colocavam as trancas de segurança das portas. 

Rua dos Canos nº. 24, bem vistas as coisas o nº. 24 já não existe a porta encontrei-a agora fechada.
Nesta casa, com o seu grande quintal onde sobressaíam dois enormes pessegueiros e uma roseira de bonitos cachos de flores brancas miudinhas que exalavam na primavera um perfume maravilhoso, viveram-se dramas e alegrias histórias de três gerações da minha familia de que sou a fiel depositária. Fecho os olhos e ainda consigo visualizar todos os seus recantos.
Aliás tenho dois episódios na minha vida relacionados com a Creche. O primeiro foi quando tinha os meus 6 anos e quiz porque quiz frequentar a creche onde havia quem ensinasse a bordar. Comprada a cadeira a tesoura agulhas e linhas de bordar e levando também um pano de tabuleiro desenhado pelo meu pai, apresentei-me na Creche mas... azar dos azares, logo no primeiro dia piquei o dedo indicador mesmo junto à unha tendo como resultado uma infecção que só passou com papas de leite quente colocadas em compressa. Resultado só lá fui um dia não tive mais interesse em picar outros dedos.
Volto hoje às Ermidas que populam nas imediações de Serpa para responder a um meu conterraneo o Camaramam metalico que ao visitar este blogue não encontrou a Ermida a que mais ligado está uma vez que nasceu naquela zona.
Ermida de planta longitudinal composta por nave e capela-mor, do lado esquerdo, o baptistério, e do lado direito, a sacristia, no topo da nave, duas capelas laterais formam cruzeiro. Situada em ambiente rural, numa elevação sobranceira à Estrada Nacional que liga Serpa e Beja, implantada em terreiro parcialmente calcetado e antecedida de cruzeiro de alvenaria com cruz de ferro. Arco triunfal de volta perfeita assente em pilastras, que dá acesso à capela-mor, coberta por abóbada de berço arrancando de cornija. Paredes cobertas parcialmente por pinturas murais. Altar-mor antecedido por degrau em cantaria. Do lado da Epístola abre-se a porta de acesso à sacristia de inícios do sec XVI. A imagem da padroeira, notável exemplar da escultura maneirista de inícios do séc. XVII, encontra-se depositada na Residencia Paroquial em Serpa.
1956/57 O Futebol Clube de Serpa
Campeão Nacional da 3ª. Divisão.

Dos primeiros tempos, dos tempos dos “Gatos Amarelos” contava com grande entusiasmo para além das vitórias (e algumas derrotas que as houve e muitas), a festa que era quando em dia de jogo a população ia em peso para as imediações do campo de futebol, sito num terreno baldio, não muito longe do local onde hoje se situa o Estádio, esperar os jogadores. O campo era careca, mas nem por isso o entusiasmo era menor. Os jogadores vinham equipados desde a Sede do Clube, correndo pelas ruas da vila, aplaudidos ou assobiados conforme as simpatias clubistas.
O equipamento, bom, o equipamento se assim se pode chamar ao uso de cuecas e camisola interior, era branco. Mas, há sempre um mas, algum tempo depois tanto os jogadores como os adeptos foram confrontados com uma surpresa ... e que surpresa.
Foi num domingo, quase à hora de mais um encontro, a outra equipa era de fora e os seus adeptos estavam preparados para desmotivar os de Serpa, ridicularizando-os por causa do equipamento. Foi então que no meio de grande euforia alguém (já não recordo o nome) entrou na Sede dos Gatos Amarelos, com grandes caixas onde eram transportados novinhos em folha os novos equipamentos, incluído “chuteiras”.
Calções brancos, como os do Benfica, camisola de riscas verticais como as do Porto mas, verde e branco como o Sporting Clube de Portugal. Foi o delírio total. O entusiasmo do meu pai ao contar-me este episódio era tal que eu, quase podia visualizar, não só a alegria do meu pai, que era evidente, como a alegria e admiração de todos aqueles que mais uma vez ladeavam as ruas por onde os jogadores passavam. Nesse dia ganharam no campo, na admiração dos adeptos e viram os adversários meter a língua no saco.
O meu pai foi jogador de futebol até aos seus 35 ou 36 anos. 


Possui Serpa duas bibliotecas “A Biblioteca Municipal ou Biblioteca Correia da Serra” e a “Biblioteca Caloust Glubenkian” .
A Biblioteca Correia da Serra foi criada no ano de 1904, mais precisamente a 6 de junho de 1904, por iniciativa de alguns Serpenses que assim quizeram prestar a sua homenagem a um dos maiores vultos do Portugal do sec. XVIII, um ilustrissimo filho de Serpa. Em 9 de Janeiro de 1931, encontrando-se a mesma em estado caótico foi convidado para a arrumar o poeta e jornalista João Gonçalves Bentes. Em 1950 porém, feito o inventário com base em livro de registo antigo verificou-se a falta de grande quantidade de livros pelo que foram publicados editais convidando os utentes à sua devolução. Nos anos 70 foi tarefa de João Cabral, a reorganização da Biblioteca no intuito de a colocar ao serviço da população, como era intenção dos seus fundadores o que veio a acontecer.
A Biblioteca funcionou durante algum tempo no edificio da Câmara, passando depois para a Rua Dr. Luís de Almeida e Albuquerque, ocupando um edificio que foi em tempos a morada oficial do Juiz e onde também foi instalada a Biblioteca Calouste Gulbenkian. O Património bibliográfico ali existente é de cerca de 2000 volumes.
José Francisco Correia da Serra (Abade Correia da Serra)
Em 1966 foi inaugurada a Biblioteca Gulbenkian, numa pequena sala nas trazeiras do edificio da Câmara Municipal, mas já antes a Fundação com o mesmo nome fazia circular por várias terras, incluindo Serpa uma carrinha carregada de livros a que se dava o nome de Biblioteca intenerante, onde aqueles de nós que tinham o vício da leitura, saciavam a sua sede, uma vez que estava completamente fora de questão a compra de livros, tidos já nesse tempo, como produtos de luxo a que só alguns podiam aceder. Orgulho-me de pertencer ao conjunto dos primeiros leitores que de quinze em quinze dias, traziam para casa 3 a 5 livros. Conservo ainda o cartão de leitor. É com bastante alegria que constato a construção de um edificio condigno para a instalação do acervo da Biblioteca Municipal.
Abaixo alguns dos livros editados pela Câmara Municipal de Serpa.

, e o meu cartão de leitor.

A cultura e as artes tiveram sempre um lugar especial na Vila de Serpa, para além de dois espaços de exibição de filmes, um ao ar livre junto ao Jardim e outro numa sala existente na Rua de Nossa Senhora, “Cine Parque Esperança” se bem me recordo.
Também na Rua de Nossa Senhora, havia uma sala de espectáculos de que já falei, quando da publicação do (Recantos – 19) em que diziamos: - No ”TheatroThália”, cujo palco se situava onde antes tinha existido o altar-mor, da Igreja do Hospital da Misericórdia, na Rua de Nossa Senhora, representaram, além do grupo de teatro amador, residente, actrizes de grande prestígio do Teatro Português como Rosa Damasceno -. Acrescentamos agora que este Teatro, com Grupo Cénico residente, foi estabelecido por diversos cavalheiros abastados da vila, e que além dos dois grupos de Teatro Amador locais, este e o Gil Vicente, alí representaram também companhias ambulantes, tanto portuguesas como espanholas. Ao que sabemos Rosa Damascento terá até contracenado com um dos grupos de amadores de Serpa numa peça intitulada "Córa", podemos pois concluir que os nossos amadores eram actores de grande gabarito.
O outro grupo de que tenho conhecimento era o "Grupo Cénico e Musical Serpense Gil Vicente" do qual deixo aqui registo atravéz do Bilhete de Identidade nº. 35 conferido a meu pai em 1943.
Depois de um interregno mais ou menos longo apraz-me registar o resurgimento em 1996, de um grupo de Teatro, ao que sei pela mão de Romão Janeiro, encenador e actor do Teatro Experimental de Pias. Ainda em 1996, o grupo constitui-se em associação e apresenta a peça “Um Caso Raro de Loucura”, de Henrique Galvão, Este Grupo que se tem exibido em diversas terras de norte a sul de Portugal, desenvolve ainda iniciativas de Teatro Infantil e Festivais de Teatro, em estreito intercâmbio com Grupos de diversos pontos do país. Abaixo a fachada principal do novo Cine Teatro e o interior da sala de espectáculos.
Este singelo monumento ao Poeta maior da lingua Portuguesa esteve desde a sua inauguração nos anos sessenta colocado frente ao edifício da Câmara Municipal porém com as obras efectuadas na referida praça, foi colocado junto ao Teatro Municipal.
(por falar nas obras que a Praça da Républica sofreu devo dizer que ficou mais pobre a que deveria ser sala de visitas de Serpa, até o piso lhe deixaram desnivelado. É triste ver uma Praça que já teve Palmeiras e bancos de Jardim transformada em mera esplanada do Café Alentejano.